Ariele nasceu em Córrego
da saudade, uma pequena cidade do interior do Pará, onde vivia com sua mãe e
cinco irmãos. O pai sempre ausente, trabalhava em empreiteiras e por isso vivia
viajando. Tudo que acontecia Ariele contava ao pai através de carta. Sua mãe
dona Carmen é que tomava conta de tudo na velha casa. Havia muito trabalho a
fazer, como cuidar das plantações e das criações. Dona Carmen alimentava a
vaca, os cabritos, porcos, galinhas e o cavalo que puxava a velha charrete da
família. Durante a semana trabalhavam duro para garantir o sustento. Dona
Carmen ensinava os filhos a cuidar das plantas que tinham ao redor de casa, das
fruteiras e da horta de onde tiravam o alimento.
A irmã mais velha é
que dava as ordens aos mais novos, pois o único homem da casa, tinha apenas
dois aninhos e era o xodó das meninas. Quando o dia raiava dona Carmen ia
tratar das criações e tirar o leite da vaca, enquanto as duas filhas mais
velhas iam para escola que distava quatro quilômetros da casa. Só retornavam
pouco depois do meio-dia, quando almoçavam e descansavam um pouco, logo depois
iam aos afazeres do quintal. Ariele por sua vez não gostava de cuidar da horta,
preferia pegar um novelo de linha e tecer crochê e com as vendas das peças, ela
conseguia um dinheirinho para comprar suas roupas. Garota vaidosa, gostava de
perfumes e maquiagens. Seus sapatos eram todos de salto alto, apesar da pouca
idade. Adorava vestir-se para sair nos fins de semana, no domingo à noite,
quando se juntava a sua tia e primas para irem à missa na cidadezinha próxima.
Diziam as primas: Como você consegue comprar suas roupas e sapatos e andar
sempre tão bonita? Ela respondia: Eu gosto e quero, quando se quer, dá-se um
jeito! Porém a irmã mais velha, estava sempre enciumada por não conseguir
atrair tantos olhares quanto ela.
Sempre que podia Ariele
se reunia com suas primas e a irmã para darem uma volta no jardim da pracinha
da matriz. Uma noite depois da missa, elas foram para o costumeiro passeio e
neste dia ela conheceu um rapaz que lhe interessou bastante. Ela, como toda
adolescente, sonhava alto. Imaginava poder encontrar um amor que durasse para
sempre. Conheceu o Jorge e logo apaixonou-se e quanto mais os dias passavam,
mais apaixonada ela ficava, mas o rapaz só queria divertir-se, sem levar o
relacionamento a sério. Como não tinha intimidades com a moça ele sumiu sem dar
explicação. Isto fez Ariele sofrer muito, até chamar a atenção de sua mãe que
percebeu a tristeza no olhar da filha, então ela perguntou-lhe: - Minha menina,
você é sempre alegre, sorridente e vive cantarolando. Tenho reparado que está
triste e nem ouve mais suas músicas preferidas. O que aconteceu? Ariele
respondeu: - Mãe estou apaixonada. Sabe o moço de quem te falei? Não voltou na
missa, sumiu e nem disse até logo. Sua mãe disse-lhe: Filha, não sofra antes do
tempo. Você é muito jovem para sofrer por amor, deixe isto para a idade certa.
As duas abraçaram-se e foram trabalhar.
Ainda envolta no
sofrimento da desilusão amorosa, Ariele se recuperava quando seu pai retornou
para casa. Arrogante e autoritário, chegara impondo regras e tratando as
mulheres e crianças como se fosse proprietário delas. O sofrimento apenas
começava, desta vez trazido pela conduta do pai sobre toda família, mas como Ariele
era tinhosa, driblava o pai e ia na missa com a tia. Em uma destas escapadas
seu pai a surpreendeu falando com um rapaz na praça. Segurando-a fortemente
pelo braço, arrastou-a para casa enquanto dizia: - Filha minha não namora em
rua, se quiser terá que ir em minha casa e pedi-la em namoro. Envergonhada ela
chorou muito. As primas e irmãs riam e faziam comentários. Antes mesmo que
chegasse em casa ela pensou: - Vou sair de casa e morar com minha avó.
Conseguiu ir morar na fazenda com a avó. A mudança fez muito bem a moça, tudo
estava indo muito bem. Ela adorava viver ali.
Agora ela era uma
jovem responsável e admirada por todos na região, trabalhava na fazenda e saia
todos os dias após o almoço para revender produtos de beleza e acessórios. Ariele
tornou-se uma grande revendedora de produtos de beleza e roupas.
Texto escrito por Luzia Couto.
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